Restauro de memórias do passado| Motorizada EFS Motobil

Já há muito tempo que pensava restaurar a motorizada do meu pai: uma EFS Motobil do final da década dos anos 70.

Esta história conta como muitas outras, a vivência de gerações e os desejos de preservar memórias.

O som e cheiro característicos das motorizadas marcaram a nossa freguesia, concelho e país durante muitos anos e fazem parte da cronologia da indústria de duas rodas do século passado.

Numa época em que a aldeia de Enxames ainda não era Freguesia, as “grandes estradas” não tinham alcatrão e as deslocações ainda não se mediam em tempo, mas sim em aventura, estas motas cumpriram e suportaram as necessidades de mobilidade com custos que podiam ser suportados por uma camada da população em geral e daí grande parte do seu sucesso.

Em quase todas as famílias há alguém que teve ou tem uma motorizada e estão enraizadas na nossa cultura. A procura deste tipo de motas atualmente é alta e ajuda a estimular o mercado dando origem a negócios em torno deste mundo como sejam por exemplo o restauro das mesmas.

A coisa que mais me motivou a revalorizar esta moto foi sem sombra de dúvidas o valor sentimental que ela me transmite e a recordação do meu pai. Todos os bons e maus momentos ficam na nossa memória e é gratificante ter algo que nos reavive as mesmas, contribuindo também para manter o património em bom estado.

Lembro-me pequenino de fazer pequenos trajetos com os meus pais e irmã nesta mota até casa dos meus avós e de, literalmente, atravessarmos ziguezagueando as pedras da ribeira que atravessa o atual Bairro da Ponte Nova. A lembrança de na parte traseira por cima da grade se encontrar uma caixa presa por esticadores que servia para transportar pequenas compras ou produtos – agora vejo algum vídeo na India com mais de 2 pessoas em cima da moto e não me surpreende. Recordo-me de encontrar sempre na pequena caixa de ferramentas um par de velas para substituir as “velas encharcadas” e de haver sempre “fios de desperdício” para limpar os óleos.

As recordações de ir à pendura até ao Hospital para retirar alguma espinha de peixe cravada na garganta, da cicatriz que o meu pai tinha por uma queda grave com esta mota. A memória de conduzir a motorizada pela primeira vez, cair pela primeira vez, dos passeios com os amigos, as grandes aventuras em que nos metíamos e muitas outras histórias que marcaram a minha vida e a de muitos outros. A mota cá continua desde 1976!

Passados todos estes anos, já com muitas teias de aranha, bastante pó e adormecida na garagem, decidi avançar com o restauro da mesma e deixá-la como diz o Sr. Zé, “melhor que quando saiu de fábrica”.

Depois de ler algumas opiniões e ver algum do seu trabalho decidi contactar o Sr. Zé, hoje mais um grande amigo, para ver se podia devolver a vida e alma a esta mota.

Passados 3 anos, com alguns contratempos pelo meio felizmente ultrapassados, cafés, cervejolas, convívio, muita conversa, Covid-19, e não é que não tivesse sido avisado: <<Hugo, eu trato disso, mas não te posso dar uma data>>, finalmente vejo um restauro personalizado que considero de grande qualidade, que me trouxe bastante orgulho, alegria e reavivou muitas memórias.

Detalhe técnico de alto nível do restauro efetuado:

Efetuada uma limpeza inicial, seguiu-se a desmontagem de todas as peças, deteção de fissuras e reparação das mesmas, soldaduras, retificação, desempenamento, jateamento das peças a pintar, correção de pequenas imperfeições, pintura geral, abertura do motor, reparação completa do motor (cilindro, cambota, caixa de velocidades, rolamentos,vedantes, etc.), reparação completa da suspensão, instalação do novo sistema elétrico, montagem das peças pintadas e cromadas, afinações, etc…

Referências:

Moto&Restauro José Antuneshttps://instagram.com/motoerestauro/ https://www.facebook.com/jose.antunes.3785

Motas de Portugal-http://www.motosdeportugal.com/

EFS foi fundada por Eurico Ferreira Sucena em 1911 como uma pequena indústria para apoio à produção de acessórios para bicicletas no Lugar da Borralha, Águeda. Em 1952 produzem o primeiro ciclomotor. Em 1969 iniciam a exportação para África, Europa e América. Em 1978 produzem um modelo 125 cc. Utilizaram diversos motores Cucciolo, Sachs, Kreidler, Casal, Zündapp, Derbi, Minarelli e Yamaha. Muitos modelos podiam ser equipados com motores à escolha do cliente.

Zündapp foi um famoso fabricante de motos alemão. A marca foi fundada em 1917 em Núremberg por Fritz Neumayer, por Friedrich Krupp AG e o fabricante de maquinaria Thiel, com o nome Zünder-Apparatebau-Gesellschaft m.b.H. A produção prolongou-se até 1984, ano em que fechou a empresa.

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